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26 de mar. de 2009

Tubinhos Cítricos

- Achei que você ia passar na USP.
Pois é, pai, eu também. E dessa vez eu realmente me vi perdida andando pela Cidade Universitária. Não passar, não foi uma decepção, por maiores que fossem minhas expectativas.
Estas estavam concentradas na Cásper. Contudo, ao passar do tempo minha ilusão apaixonante foi evaporando-se.
Era uma obsessão minha, uma obsessão besta.
E se não fosse o lugar que eu deveria estar?
Eu deveria pensar nisso, mas na verdade eu considerei outros valores que não importam agora.
O importante é que eu estou amando de verdade a PUC.
E eu não sei por que.
Quando eu chego, na maioria das vezes por volta das 18h20, entro pelo portão do Comfil. É prédio quase clandestino, como dizem meus amigos "um puxadinho" da PUC. Não tem infra-estrutura nenhuma. Se você passar lá, não diz que AQUILO é um campus. Bom, não é um campus mesmo.
Tem uma lachonete que eu nunca frequentei, com mesinhas de buteco. A primeira vez que ousei a comprar algo, fui advertida por fontes confiáveis que lá não era bom. E não tem lixo lá. Os únicos que eu achei são aqueles grandes, quase do meu tamanho de reciclagem. Mas eu tenho que por a mão na tampa para abrir. E isso não é uma coisa que a minha religião permite.
O prédio todo é a céu aberto. É uma maravilha quando chove. Para subir até a minha sala, tem uma rampa cansativa e minúscula. Se eu tivesse 10 quilos a mais, não seria possível passar por ela. A minha sala de aula é das melhores de todos os campi. As cadeiras (exceto da parede da esquerda) são acolchoadas, algumas são rasgadas e são estilo quarta-série, bem melhor do que aquelas de um braço só. É bom para deitar nas aulas de Linguística e Política. Ainda tem uma TV de umas 36 polegadas que os professores só usam quando não tão mesmo afim de dar aula, a lousa é verde e nova. O teto é de isopor como toda boa escola. Do lado de fora, faltam algumas pedaços, mas nada que seja terrível, tanto que eu reparei sexta-feira passada.
Mas eu falei da melhor parte? Os banheiros.
São os mais fedidos que eu já entrei, não têm espelho (!), às vezes tem sabonete e quando tem é difícil funcionar naquele equipamento que sai sabonete liquído, cujo nome eu não sei.
Em outros tempos, eu jamais entraria num lugar que fede sabe se lá Deus o que e reinvidicaria por um espelho. Convenhamos que a PUC tem seu cheiro especifico. Daquela erva... e rola o dia inteiro. Dá para você ficar tapado só cheirando aquilo. Mas depois de uma semana, menos até, você se acostuma e nem liga mais.
O resto do campus da PUC é parecido ou pior. Algumas salas não tem alguns pedaços do chão de tacos, as portas são mais antigas e gastas do que havaianas de pedreiro, tudo emana velharia e abandono.
Bastaria pouca verba e muita tinta e seria o suficiente para reformar a PUC, mais nada.
Sempre há rebeliões um tanto quanto pacíficas sobre o assunto e claro, outros tantos. Mas nada muda.
Eu e meus amigos discutíamos outro dia por que diachos continua assim. Sem tom de indignação ou revolta, apenas curiosidade mesmo. Afinal, são tantos alunos, tantas mensalidades pagas e bocas para reinvidicar. Igual ao Brasil vs. Governo.
Acontece que por mais que reclamem ou não, lá não tem pessoas acomodados e conformadas com o mundo. Muito pelo contrário. É demais conhecer pessoas que odeiam a Veja e possuem outras opiniões comuns. Tirando as vezes que me sinto um ET por não gostar de cerveja e gostar de Keane ( entre outras coisas "alternativas"), eu me sinto em casa na PUC. Todo mundo fala gritando e gosta de cometer suicídios gastronômicos.
A possibilidade que meu pai diz que se eu não ajudar a pagar minha faculdade, ele vai ter que trancar minha matrícula, me corrói. É como se fosse possível a felicidade se calar no silêncio mais profundo.
Eu ter feito cursinho tudo de novo ano passado não é nem a angústia maior. Eu ficar brisando pelo resto da minha alvorada, juntando dinheiro e fugir para Londres, abandonar tudo logo de uma vez também não faz parte mais do meu plano-temporário de vida. Mas me livrar do lugar que eu demorei a encontrar tão rápido? O lugar caído e podre que considero encantador?
Não!
Eu amo lá agora, não quero sair mais. (Só daqui 4 anos) Eu sei que aqui e agora é onde tenho que ficar por enquanto. Londres estava no mesmo lugar e vai ficar por um bom tempo... (eu espero). O agora corre destrambelhado por todos os cantos sujos e límpidos do tempo.
Tive que passar no Doces Santa Rita, eu precisava de um doce. Mais especificamente dos meus queridos tubinhos citrícos. Um tanto contraditório.
Cheguei lá e não tinha para variar. Estava em falta.
Peguei um outro pacotinho de bala de gelatina de morango. Contentei-me.
Do nada, isso me veio como uma metáfora. Não lembro mais como, mas fazia um sentido extremamente filosófico, juro.

Eu não estava me dedicando aos meus sonhos.


Para variar.





Que meus sonhos sejam mais uma vez prolongados... (de novo) - eu pensei.
Mas dessa vez eu não senti que eu estava perdida, perdendo tempo, perdendo fôlego, perdendo dinheiro, perdendo a vida.
Eu sinto que esperei tanto para a vida realmente começar. Tendo tubinhos citricos na mão ou não.
O fato é que não somos acomodados, conformados, preguiçosos. Nós nos contentamos com o que temos, o que conseguimos. E ficamos felizes com isso, mais do que com a primeira opção.
Eis meu slogan de um tempo atrás que se sobressai mais uma vez: Só porque não é perfeito, não significa que não seja bom o suficiente.

Ou no caso, melhor.

outros sabores, gostos, cheiros, visões, sensações no mundo. Temos que abrir nossa alma a ele e aí sim seremos capazes de atingir a perfeição desenhada exclusivamente para cada um de nós.

5 comentários:

A fantasticamente de GI disse...

Fiquei com vontade ............. deliciaaaaaaaaa . mas a metafora é boa

Sá Heck disse...

eu to na mesma situation baby...mas eu descobri o fiesp, pago a faculdade no dobro do tempo mas pela metade do preço..

não precisa sair agora..


mas pelo amor, vc poderia reclamar dessa infra-estrutura....rs

Thiago Domingues disse...

Eu tava saindo da internet, mas vi o link que vc colocou no twitter.
Que bom que eu resolvi perder mais uns minutos de sono pra ler. Muito bom!
Temos uma visão parecida da PUC =)

Pedro D. Meletti disse...

Diriam alguns professores e outros alunos que a PUC é o que é porque é assim, ruim. Discordo. Mas também não posso negar que essa velharia instiga uma vontade de reforma de vida que dá o ar da graça de ser puquiano, comfilho e jornalista.

Pedro D. Meletti disse...

Será que foi?

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