Mate antes, pergunte depois
Inocentes são vítimas de assassinato da PM
Na madrugada de anteontem, após uma longa perseguição, três jovens de classe alta foram mortos a balas em uma ação da famosa Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) no bairro nobre do Jardim América, zona oeste de São Paulo.
A tragédia se deu início quando os rapazes em volta do Puma de Roberto Veras estavam tentando furtar um toca-fitas e foram abordados pelo veraneio cinza da Rota 13.
Os adolescentes José Noronha Filho, Carlos Ignácio Rodriguez e Augusto Junqueira pularam o muro e correram de volta ao carro. Apavorados com a presença da polícia não ouviram ou não deram importância à ordem de prisão.
A perseguição ao Fusca Azul começou. O comandante da rota 13 permaneceu com a porta entreaberta para facilitar o momento propicio de disparo. O soldado responsável pela comunicação via rádio fez o primeiro contato com a Central de Operações. Sem verificar a diferença da chapa correta - EI 1565, o atendente confirma que o veículo era roubado.
Na Avenida Nove de Julho foram surpreendidos por uma radiopatrulha que fazia uma ronda de rotina. A nova perseguidora é a Rota 66.
O Veraneio cinza se aproximou mais do Fusca Azul. São duzentos, trezentos metros ou 15 segundos de distância. Os faróis ofuscaram na noite e a sirene parece o ruído de um monstro enfurecido e faminto por sangue inocente. O farolete portátil de cinco mil watts lança luzes no retrovisor de todos os carros à frente. Os motoristas, assustados, abrem caminho com dificuldade por causa do trânsito movimentado nesta madrugada de quarta-feira, no Jardim América. O Veraneio, com manobras bruscas, vai chegou perto, cada vez mais perto dos três garotos do Fusca azul. Eles estão na Maestro Chiafarelli e têm à frente uma parede de automóveis à espera do sinal verde para o cruzamento da Avenida Brasil.
O automóvel perseguido andava a 120 quilômetros por hora e logo chegou a Rua Argentina esquina com a Rua Alaska. O motorista, o jovem Noronha, perdeu o controle e atingiu um poste. Ele e o amigo Carlos Ignácio logo saíram de dentro do Fusca. Noronha clamou “Não atirem!”. Mas a misericórdia misturada à sede de morte da Rota 66 é cega e surda. Foram feitas 21 marcas de bala, a maioria na parte superior do fusca e 23 perfurações no corpo das três vítimas, em suma nas regiões vitais como coração e cabeça.
Os corpos, com a ajuda do PM Eli Nepomuceno que chegara depois ao local do acidente, foram arrastados de fora do fusca e levados nos compartimentos dos presos da Rota 17 ao Hospital das Clínicas, localizado a cinco quilômetros da cena do crime. Em menos de dez minutos é possível chegar até lá. Contudo, segundo os médicos do hospital, chegaram já com rigidez cadavérica. Os policiais forçaram o atendimento médico às vitimas mesmo estando mortas. As vítimas foram consideradas como desconhecidas até notificarem as famílias e elas identificarem os corpos.
Laudo comprova que
não houve disparos dos mortos
A PM indicou outra versão do ocorrido: Perseguição com tiroteio seguida de morte.
De acordo com esse relato, os disparos que vieram da polícia e a conseqüente morte dos jovens foram apenas uma resposta ao ataque primordial deles.
No Boletim de Ocorrência ditado pelos policiais, os jovens quando alcançaram a altura da esquina da Rua Alaska às 3 horas e 40 minutos, bateram num poste. Ao descerem do carro fizeram disparos contra a viatura. O laudo que saiu ontem que comprova que não houve um disparo dos jovens contradiz essa versão.
Para provarem sua inocência e conseguirem que impunidade reine mais uma vez, os policiais fingiram um gesto humanitário encaminhado as vítimas ao hospital, não providenciaram o isolamento da área e ainda violaram o local do crime que deveria ser preservado. Além do mais, apresentaram um Calibre 32 e dois calibre 22 de origem clandestina como se fosse às armas que os rapazes do Fusca Azul utilizaram.
Noronha, Pancho e Augusto foram outras das milhares vítimas desarmadas, indefesas, inocentes da atuação irregular da Rota.
Os policiais que participaram do assassinato cruel dos jovens, o Comandante Sgt. Felício Soares, Antonio Soria e José Humberto Lopes Martinez são membros da elite da PM. Eles aguardam o julgamento em liberdade.
Obs.1:
Isso me fez refletir: se o caso Rota 66 entre outros tivessem ocorrido em 2009 e não em 1975, seria diferente? Os policiais saíram impunes ou a justiça cumpriria seu papel?
Apesar de não estarmos mais vivendo uma ditadura, a liberdade, o respeito, a verdade e a justiça são censurados de uma forma sutil.
É por isso que paira nossa incerteza e descrença nos órgãos públicos.
Obs.2: Leiam Rota 66 do mestre Caco Barcellos.
obs.3: Matéria como Prova do livro Rota 66.
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