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6 de jun. de 2009

Mães da Sé

Desaparecidos ou esquecidos?


Ivanise. Este era o nome da mulher a nossa frente que daria uma palestra. O assunto? Ninguém fazia ideia. A maioria das pessoas queria descer para aquela festa medíocre repleta de gente bêbada e chapada. Tão transparente quanto essa vontade daqueles, Ivanise disse que seria breve.
Assim, ela começou a contar sobre a Mães da Sé, Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas (ABCD), uma entidade sem fins lucrativos, que congrega familiares e amigos de pessoas desaparecidas, na qual era ela a presidente. Em pouco mais de 7 anos de existência, a Mães da Sé já cadastrou mais de 5.000 casos de pessoas desaparecidas em todo o país. Aproximadamente 15% foram solucionados. Contudo, são mais de 200 mil casos por ano no Brasil. As mais frequentes causas por trás dos desaparecimentos são fugas de crianças e adolescentes que vivem algum conflito familiar, abandono material ou violência; crianças que se perdem (algumas são encaminhadas a abrigos). Algumas somem enquanto brincam em frente de sua própria casa. O perfil mais comum nos registros é o de menores de origem pobre, pele clara e muito bem afeiçoados, mas sem uma faixa etária definida.
O destino mais longe das que fogem de casa é Santos. Contudo, a maioria parece evapovar do mapa, não deixa nenhum rastro se quer. Elas tanto podem ser aquela que lhe pediu um real no trânsito como a próxima da fila no tráfico de pessoas para a Europa e Ásia, principalmente. Além do mais, existe ligação com o tráfico de órgãos, de drogas e também à adoção ilegal e à exploração sexual.
Quando a novela Explode Coração foi ao ar, essa situação brasileira veio a tona. "Na época, houve grande divulgação. Hoje em dia, não mais. Com o tempo as pessoas se esquecem. Mas o problema continua existindo."
Um silêncio e atenção absolutos esparramou-se pela sala. Nunca haviam-se deparado a fundo com a essa realidade, ou melhor, mundo paralelo. Um mundo que existe deveras, mas que víamos como um cenário gasto na cidade.
Ivanise nos perguntou: "Vocês olham mesmo para as fotos?". Claro que não olhamos! É algo superficial. Ela revelou que há treze anos ela não sabia o que era comemorar Natal, Ano Novo, etc. pois sua filha mais velha havia desaparecido. Mesmo tomando depressivos, ela não consegue se libertar. Da saudade constante? Da culpa inconsciente? Será que a dor chegaria a um fim? Até lá, ela morreria aos poucos, dolorosamente, todos os minutos de espera, todos os dias de esperança interminável. "Quantas vezes eu não abordei pessoas no metrô de costas, pensando que era minha filha!"
Ivanize já chegou a se sentir aliviada muitas vezes. Recebera antes telefonemas que haviam encontrado sua filha, mas eram trotes. Da última vez, sua filha estaria supostamente em Santa Catarina, com 24 anos, casada e com 3 filhos. Após a alegria de ser avó, veio a tristeza, Ivanise mal podia falar. "Minha filha adorava bolo de banana e lasanha." Há treze anos ela não sabia mais qual era o sabor.
O ser humano não tem limite. Ele não respeita os sentimentos alheios, a não ser o próprio.
As autoridades brasileiras fogem descaradamente de cumprir o seu papel. É previsto pela lei 11.259/06, que a cada novo caso registrado, a delegacia é obrigada a iniciar uma busca e acionar aeroportos, portos e terminais rodoviários. Se isso realmente acontecesse, a porcentagem dos casos de desaparecimento aumentaria significativamente. Segundo Ivanise, a polícia divulga que 80% dos casos são solucionados, mas no mundo real, são apenas 25%.
Todas as mães se perguntam a todo segundo: " Onde está meu filho? Se ele está vivo, por que não aparece? Se ele está morto, cadê o corpo?". Ainda emocionada, Inanise faz uma queixa: " Nós preparamos nossos filhos para nos enterrarem e não ao contrário."
A sala estava cheia. Cheia de pensamentos, dúvidas, reflexões, de desejos, de luta e mudança,
de esperanças. A caixa de pandora fora aberta e só será fechada quando a verdade transformar a realidade.

Um comentário:

Raphael Oliveira disse...

Eu já conhecia as mães da Sé, são guerreiras, lutadoras e provam que a esperança nunca morre.
Parabéns pelo texto menina.


http://numtofazendonada.blogspot.com

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