Comunistas de Boutique
Como, quando e por que o socialismo cedeu às compras
por Ery Peratza em 14/08/08 para Revista Tafetà
Imagine um mundo onde todos usassem tênis verde oliva, saias jeans até o joelho, todos usassem peças da mesma marca e ainda que não houvesse calça número 42. Seria um mundo monocromático, de uma personalidade chata e fundida, com multidões sem rostos e traços, todos andando em marcha esquelética com emoções monótonas. Afinal de contas a moda é ou não é o transparecer de personalidades e vontades? Imagine-se num mundo onde você não pudesse fazer escolhas entre o rosa e o roxo, entre vestido e túnica, entre sexy e elegante, pois há somente uma única opção e que não é opção já que é um caminho compelido pela ausência das alternativas. Eis então o mundo socialista. Não que seja ruim, mas não é nada versátil. Além de muito brega, já que corre riscos profundos de se deparar com uma siliconada trajando o mesmo vestido preto básico e clássico que você naquela festa.
Na U.R.S.S., era o Estado o responsável pela produção de alimentos, de automóveis e também de tecidos. Estes eram fabricados apenas para a mera sobrevivência e diga se de passagem que eram tecidos bons e grossos uma vez que na Rússia, por exemplo, o inverno é tão rigoroso que a temperatura chega a marcar 50 graus negativos. Apesar da elegância dos casacos de pele, havia uma única marca, a do Estado e por isso tudo era igual para todos os cidadãos. Menos é claro as leis. Essa situação atualmente já é ultrapassada. Os únicos países de certa forma persistentes do socialimo são Cuba e Coréia do Norte. Mas suas fronteiras estão abrindo - lentamente mas estão - aos imigrantes capitalistas. Nos anos da Guerra Fria, nada ultrapassava a "cortina de ferro". A Guerra Fria foi, por um bom tempo, o terror e a angústia de muitos, tantos dos habitantes do capitalismo quanto do socialismo. As adversidades entre EUA e a U.R.S.S. eram acirradas e assustadoras. Temia-se que a qualquer instante o mundo sucumbiria ao aperto de um botão vindo do oriente ou do ocidente. Felizmente, as disputas pela conquista do mundo foram indiretas e nunca nenhum americano lutou com arma na mão contra um soviético. As lutas possuíam uma essência completamente idealista. Enquanto a Doutrina Abraço do Urso agarrava os países do leste europeu como aliados, a Doutrina Truman dos EUA e seus fiéis companheiros, evitava a expansão do socialismo. A criação do Plano Marshall, uma ajuda financeira aos países europeus aliados dos Estados Unidos que estavam arrasados após a Segunda Guerra Mundial, foi respondida pela mesma moeda pela União Soviética através do Comencon. A OTAN, que existe até hoje, também foi uma resposta ao Pacto de Varsóvia, uma aliança militar. As brigas pelas estrelas e pela Lua, a corrida armamentista e o planeta bipolar chegou ao fim, simbolizado pela Queda do Muro de Berlim em 1992. Logo, o E.U.A, se viu como líder absolutista. Já a U.R.S.S., cujo Estado patrocinava os gastos militares sem ter em troca lucros como ocorria com as empresas nos Estados Unidos, se viu num abismo de grave crise econômica. Era o ínicio do fim, os sintomas de sua morte. O famoso Gorbatchev entra no poder e para salvar a União Soviética, propõe uma reforma econômica, a perestroika e outra militar, a glasnot. A última foi muito bem aceita pelo ocidente uma vez que o bloco soviético se desfez. A Rússia estava cheia de problemas para poder 'cuidar' dos outros países e o seu desarmamento da U.R.S.S. foi dado como redenção. Gorbatchev então, começou a introduzir paulatinamente o capitalismo no país com acordos entre empresas e afins que liberaram, a principio de forma sutil, o consumo. No entanto suas atitudes despertavam fortemente a oposição, deixando o em cima do muro, entre a cruz e a espada, quase que literalmente. Os ultra-reformistas alegavam e reclamavam da velocidade do processo capitalista e do outro lado, os militares não estavam nem um pouco felizes com o desmanche do Pacto de Varsóvia. Até que ocorre um golpe que não foi um golpe, ou que ainda foi um golpe no golpe. Boris Yeltsen evitou o golpe militar e Gorbatchev, ao voltar de suas queridas férias, o agradeceu imensamente. Acontece que o mesmo Boris deu um chega para lá no presidente: ele continuaria sendo presidente, mas não articularia mais nada. Em um dia de Natal, Gorbatchev se cansa de ser apenas um boneco e renuncia a seu cargo. Recentemente, fez uma campanha para a Louis Vuitton.
Foi assim que, de uma hora para outra, a U.R.S.S. entrou em extinção e tão rapidamente se tornou capitalista e subdesenvolvida. Em alguns cantos, essa transição ac

Sem o capitalismo, ou seja, sem o consumismo sadio - não o exarcebado e doentio que corrói e Saint Laurent castiga - as mulheres seriam só mulheres, com rostos comuns, e saias iguais, e indistintas, não seriam femininas, não cuidariam dos cabelos as unhas dos pés, não correriam desesperadas ao shopping. E os homens, os homens também só subexistiriam já que não poderiam acalmá-las, presenteá-las, mimá-las e serem dominados por elas e seus mistérios, suas mentes perigosas e capitalistas. Não é uma defesa ao sistema. Muito pelo contrário. Pois sim, o capitalismo é ruim, porco, selvagem, e aos poucos ou rápido demais é capaz de destruir os materialistas, os egocêntricos, os individualistas, os manipulados. Todavia, até hoje paira em todas as direções e amamos de paixão comprar, rasgar, gastar, justo porque o capitalismo é podre e se encaixa perfeitamente em nossos sonhos estúpidos de um dia querermos ser comunistas, assim que a liquidação da Zara terminar.